Pegar ônibus é uma
coisa quase surreal, vira rotina, o mesmo motorista que espera você correndo
com duas bolsas, uma sacola e o guardachuva –que você, em vão, tenta fechar- te
olha com um olhar que transpassa o seu ser, você sorri, sem graça, agradece e
diz esbaforida “Boa tarde!”, ele balança a cabeça sem te olhar e não responde.
E é rotina, não é
projeto, é só mais um processo do dia. As mesmas pessoas quase que nos mesmos
lugares, eu sei onde trabalham, eles conhecem meu crachá, mas ninguém se fala,
sem cumprimento, sem abano de cabeças, sem gentilezas.
Tem um rapaz,
descobri que ele é novo concursado, veio do Rio, entra falando ao telefone e
quando desço ele ainda está falando ao telefone, todo dia é assim, tenho medo
de qualquer dia ele errar o lugar e sentar em cima de mim por engano.
Esses dias ele
conversava com a Vanessa (sabe Deus quem é Vanessa), ele falava sobre o quanto
algumas pessoas são invisíveis “- Vanessa, a tia fulana não era vista, não
vivia, só via a vida dos outros passar! Não teve nada, mas era a pessoa que eu
queria ligar para contar do concurso, ah, Vanessa, como ela ficaria feliz...”
Por aí foi,
Vanessa para cá, poxa Vanessa para lá. Daí ele emendou num filme que era bom “fico
emocionado de lembrar aquela cena específica”. Antes de eu descer ele disse “ –
Ah, Vanessa, quando ele vira e tudo vem abaixo, eu chorei, foi uma mudança de
fase, ele tendo que deixar tudo para trás, nossa, como eu chorei, Vanessa, eu
não reparei, você chorou nessa hora?”
E eu pensei “Pobre
Vanessa!”, desci pensando no tamanho do egoísmo desse cara, no choro que ele
não viu, na camisa que agora ele é quem lava porque a tia Fulana não está mais
aqui e ele agora sozinho no ônibus, sem tempo, e a Vanessa lá, escutando e
talvez chorando.
Qual era mesmo o nome
do filme? Ele não disse o nome, guardou para ele e talvez para a Vanessa.
Um comentário:
E essa veia coronística??
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