terça-feira, 29 de março de 2016

Problema meu


Clarice Falcão entrou na minha vida com uma voz específica cantando, violão e a certeza de que "oitavo andar" foi feita para mim. Sim, construí uma relação de afeto com ela e com cada música do Monomania.
Passado o impacto de "oitavo andar", eu quis conhecer mais. Ela tinha vídeos de suas músicas no YouTube e assim fui me apaixonando por cada uma. A ironia melancólica de cada uma alimentava a minha dor pela música.
O show dela foi cômico para não dizer trágico. Começou com "Um só" ou "Eu esqueci você", a ordem não importa muito não, o que importa é que eu chorei, chorei muito, chorei de soluçar, as primeiras cinco músicas foram as mais tristes da minha vida e eu chorei como criança. Tenho o costume de sentir as músicas, daquela vez eu não estava sentindo só a música, talvez estivesse sentindo tudo o que estaria por vir, ou já estava ali e só eu não tinha visto ainda.
Isso em 2013, de lá para cá eu fiquei esperando mais da Clarice. Mês passado, acho que no carnaval ou logo depois ela lançou "Irônico". Eu pirei com a música! Simples assim! Ela disse muito do que eu estava sentindo, brincando com o que sente e afirmando que "Eu gosto de você como quem gosta de um perfil de facebook que usa foto de casal".
E logo veio o novo disco: “Problema meu". Disco esse que eu escutei muitas vezes, eu baixei o Spotify só para escutá-lo e escutei, escutei, escutei e continuo escutando.

Enquanto "Monomania" é o Pablo da sofrência, "Problema meu" é o Safadão da superação. Calma, eu explico.

"Monomania" é a pobre menina sofrida e psicótica que não sabe viver sem ele, que diz "me deixa ser o pinguim de geladeira" e ~~ se eu tiver alguma fala eu mudo para amo você ~~. É a menina que não se reconhece mais sozinha e aqui eu poderia citar a letra inteira de "Um só", mas prefiro dizer apenas ~~ mas a gente é um só ~~. É alguém que tentando se auto afirmar grita aos quatro cantos "eu esqueci você" e no fundo só pensa ~~ por que você não vem?! ~~. Enfim, ela não é fofa, ela é forte e ela sofre.

"Problema meu" mostra uma outra força, a da superação. Em “Eu escolhi você” ela já chega dizendo que ~~ escolhi você porque não tá tão fácil assim de escolhe r~~, mostrando que quem manda agora é ela ~~ você é o menos pior para escolher ~~ até porque ~~ na minha vida já existiram 50 opções de amor, 49 desistiram, e você foi o que sobrou ~~. Continua a mesma menina de antes, mas agora a menina manda em suas escolhas.

Em “Como é que eu vou dizer que acabou?!” São tantas situações e fórmulas que fica impossível dizer o que deve ser dito.

É o mesmo sarcasmo de sempre que diz ~~ Eu já não amo mais você, mas eu ainda odeio essa menina ~~ porém agora quem resolve não é mais ela, ela cresceu, não está mais nem aí, não sabe a placa do carro, telefone ou se o aniversário dele é fevereiro, mas ela ainda odeia essa menina e ela que morra!

“Marta” é a solidão camuflada, ~~ Ninguém mais me liga, minha melhor amiga eu acho que era você ~~ É um número trocado que muda a vida de alguém. Companhia, notícias, quase uma novela ~~ Marta, eu não te conheço! Marta, eu pago esse preço! ~~.

Monomania deixa sua marca em “Se esse bar fechar”, é a ironia melancólica, marca registrada que eu tanto gosto, ~~ Eu sei que eu marquei as dez e eu sei que já são três ~~, mas ela espera, espera e espera, vai que ele se atrasou?

“Problema meu” é a maior autoafirmação de todas ~~ Não me leve a mal, mas você não me tem...Eu sou problema meu ~~. Marca de vez a nova fase da moça que cresce a olhos vistos, ainda engraçadinha, mas mais dona de si que nunca. Sabe seu valor e sabe o quanto custa.

“Duet” Ele não está mais aqui, não atende ao telefone então eu canto sozinha – É a força de uma moça que se viu sozinha tendo que cantar o dueto, ela é forte e ela canta. Bem, para mim é a música mais triste do CD, eu não sou boa em inglês e nem quis procurar a tradução, o pouco que entendi já deu para entender a profundidade da coisa, por enquanto eu opto por ficar em águas rasas >_<

Aí vem uma música do pai dela, “Banho de piscina”, ela é vingativa e rancorosa, num ritmo brega, meio bolero, não sei definir, sei que é forte ~~ Eu quero ver você numa piscina de óleo fervendo ~~ De cara ela soa diferente do convencional, depois o ouvido acostuma e eu gostei muito.

“Vinheta” é diferente, é duas em uma, transita entre a baixa e a autoestima. ~~ Eu checo as mensagens 7, 8, 9 vezes, você disse que ia ligar ~~ e ela ficou mesmo esperando, até que em um rompante ela conclui ~~ meu querido eu só posso pensar que você morreu ~~. Simples assim.

Em “Vagabunga”, ao dizer ~~ Toma um chope comigo, Vagabunda, que eu sei a vagabunda que eu sou, repara que conexão profunda de ter compartilhado um mesmo amor ~~ ela ironiza a figura da outra, em que hoje ela é a culpada, a recalcada; ela mostra que as duas estão na mesma situação e precisam se respeitar, se entender (não uma com a outra e sim uma a situação da outra) e quem sabe até se ajudar.

E termina com a autocrítica mais irônica e fantástica que eu já vi. “Clarisse” se diz tão simples ~~ Se nem fala de quimera, se nem sabe o que é quimera...Sempre nos mesmos três acordes ~~ E é isso, ela não precisa falar de quimera para contar suas histórias de começo, meio e fim em uma música. Bastam três acordes para ela ganhar a atenção de alguém.


P.S.: Eu demorei praticamente um mês para escrever esse texto. O que, de certa forma, é irônico, levando em consideração o quanto eu gosto dela, dos CDs e das letras, tudo deveria fluir. Acontece que tem sempre aquela ânsia de mostrar o quanto é bom, e nada fica tão bom quanto eu gostaria, e o ciclo não termina nunca. Chegou uma hora que eu tive que criar coragem e ir, assim mesmo, do jeito que estava. E assim nasceu o post.

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